Maker Faire Rome 2018

Não mudaremos nunca as coisas combatendo a realidade. Para mudar qualquer coisa, construa um modelo novo que renda a realidade obsoleta.

– Richard Buckminster Fuller (12/7/1895 – 1/7/1983).

Enquanto caminhávamos em direção à saída para pegar o trem que nos levaria à estação de Tiburtina, local onde faríamos a conexão com o ônibus de volta para casa, conversávamos despretensiosamente sobre o tamanho colossal daquele espaço onde acontecia a sexta edição da Maker Faire Rome 2018, dias 12, 13 e 14 de outubro.

“É maior ou menor do espaço da Fiera Milano RHO, onde acontece o The Micam?” – conjecturávamos. Dado o mar de adolescentes e adultos na entrada da feira, pela manhã, eu arrisquei dizer que aquela de Roma era maior do que a de Milão.

Na primeira palestra que assistimos no dia, logo que chegamos na Maker Faire Rome, a informação era de que haviam calculado mais de 12 mil pessoas presentes só naquelas primeiríssima horas. Não era um show de um artista pop. Vale lembrar que uma Maker Faire é essencialmente um evento de ciências e tecnologia.

Mochila nas costas, sorri de satisfação por participar desse momento onde tantas pessoas interessadas em pensar e discutir o futuro através do movimento maker. O tema dessa edição do Maker Faire Rome 2018 era: Groundbreakers, pioneiros do futuro. E conto para você a seguir.

Makers: Fazendo o quê?

Bom, se você ainda não sabe o que é o movimento maker, faço um breve resumo e elenco alguns links úteis no final desse post para você aprofundar a sua pesquisa, continue lendo esse artigo para saber.

Em poucas palavras, a cultura ou o movimento maker parece ter sido uma evolução do DIY, também conhecido como “faça você mesmo”. No século XXI, o “do it yourself” ganhou uma característica particular: a interseção de disciplinas como a ciência, a matemática, a engenharia e o acesso às novas tecnologias que configuram a indústria 4.0, com outras diversas disciplinas também, como a biologia, arquitetura, design, alimentos ou a moda.

E era exatamente por esse motivo que nós estávamos ali: a moda.

Nós, quem?

Bem, eu, o professor Mauro Tomassetti e o colega Matteo Giusti, representando o ITS Smart – Novas Tecnologias para o Made in Italy, setor de Moda e Calçados, de Fermo.

Esse ano, desenvolvemos o protótipo de um projeto muito interessante, que servirá, no mínimo, de inspiração para outros jovens italianos (ou mezzo italiani, como eu, e nem tão jovens assim) a continuar na exploração de novos caminhos para a unir tradição do saper fare a um processo contínuo de inovação. No nosso caso, no âmbito calçadista.

SmartWalk 4.0

Imagens por Mauro Tomassetti.

O SmartWalk 4.0, em poucas palavras, é um sistema de monitoramento da postura através de sensores inteligentes inseridos numa palmilha, capazes de captar a pressão exercida pelos nossos pés e comunicar essa informação através e uma rede wi-fi a um aplicativo programado para interpretar tais dados.

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Essas informações podem ser essenciais na identificação de problemas posturais ou nas articulações do usuário, mas o que mais nos animou nesse projeto foi a possibilidade de abrir uma nova oportunidade de produto, preenchendo a lacuna de um nicho específico, o da marcha atlética.

Em 2012, um artigo do The New York Times falava sobre a dificuldade dos juízes desse esporte em controlar se os atletas estariam violando as regras das competições. Segundo apuramos, ainda hoje, em 2018, não existe um sistema oficial homologado pela federação da modalidade.

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Na marcha, o atleta não pode levantar simultaneamente os dois pés, como na corrida, e o dispositivo SmartWalk 4.0 poderia funcionar como uma espécie de “árbitro de vídeo” nas competições, sabe como?

Enfim, estamos ainda em fase de prototipagem do sistema e a apresentação conclusiva desse momento do projeto, incentivado pelo ITS Smart, Universidade Ca’ Foscari de Veneza e o Ministério da Instrução, da Universidade e da Pesquisa, aconteceu na Maker Faire 2018. Apresentação na qual fui feliz relatora.

Destaques no evento

Antes e depois da apresentação conseguimos conferir algumas palestras  e expositores, tantas coisas interessantes que não caberiam nunca num só artigo – prometo derivar todas as ideias depois.

O fato é que esses momentos de reflexão e interseção com outros universos são a parte mais importante, me parece, depois de qualquer experiência que vivemos. Como um alimento que, cozinhado a fogo lento, ganha mais sabor e nuance. Sobre a metáfora, leia Bourdain.

Sustentabilidade

Folheto do evento na mão, com o mapa de todos os stands expositores, conferências e happenings, o que chamou a minha atenção foi o quanto os curadores da Maker Faire fizeram questão de aproximar o discurso da inovação com o da sustentabilidade.

Aqui nesse blog já falei não só uma, mas diversas vezes, sobre o quanto o futuro da humanidade só será possível na Terra se passar por uma consciência de inovação através do desenvolvimento de produtos e serviços sustentáveis. Não existe outro caminho possível.

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Materiais naturais e inovativos para impressoras 3D, projeto do Rad Chem Lab, da Universidade de Pavia, com stand na Maker Faire Rome. Eles utilizam óleo de cozinha usado para produzir a base do insumo para impressoras estereolitográficas. Imagem divulgação.

Então, não só algumas poucas, mas várias ideias inovativas com essa preocupação puderam ser observadas. A impressão 3D foi apresentada de muitas formas, e apesar de não ainda termos com frequência o dispositivo na escrivaninha das nossas casas, para o movimento maker é algo já bastante banal.

Mas o mais importante, no meu entendimento, são as iniciativas que propõem novos tipos de materiais para soluções em filamento ou estereolitografia (sla).

Será que vale um post detalhado sobre impressoras 3D mais tarde? Teria algum leitor interessado num aprofundamento sobre esse braço da indústria 4.0? Se você gostaria de um aprofundamento do assunto no viés da moda, deixe a hashtag #impressoras3Dnamoda nos comentários.

O mundo está saturado de plástico e o equilíbrio não vai acontecer de outra forma senão com a diminuição drástica na produção de produtos com esse material. Por esse motivo, existe uma atenção especial  do setor na realização de “cartuchos” de impressora 3D mais sustentáveis, por assim dizer.

Food future

“Na sociedade pós-industrial na qual vivemos, a revolução digital que está tomando conta da nossa vida nos obriga a reaprender a compreender o valor da alimentação e de nos reconectarmos com o alimento, com quem o produz, com quem o distribui, o transforma e compartilha”.

– Sara Roversi, Fundadora do Future Food EcoSystem e Curadora do Future Food Zone na Maker Faire

A tecnologia aplicada ao setor alimentar dentro do complexo 4.0 é de extrema relevância e atua como um dispositivo que visa garantir a sustentabilidade, também.

Não atoa, uma das revoluções no mundo dos alimentos é a proteína alternativa, ou a carne de laboratório. Quem viu Before the Flood, documentário realizado por Leonardo di Caprio, sabe que a criação de gado de corte é uma das principais causas da alteração climática no mundo, seja pela emissão de gás carbônico dos ruminantes, seja pelo desmatamento que a indústria promove para a geração de novas áreas de pasto.

Quero fazer um cruzamento sobre a indústria 4.0 aplicada à comida e aos calçados. Existe um link importante aí. Vai render um novo post, vou apresentar alguns insights reveladores e  interessantes. Aguarde!

Apollo 11

O espaço também teve lugar de destaque no evento, com um pavilhão inteiro dedicado à inteligência artificial, interação, robótica e realidade virtual aplicada à pesquisa espacial.

Uma das conferências foi facilitada por Don Eyles, o programador que escreveu o código-fonte das missões Apollo e que levou o homem à lua pela primeira vez. Eyles contou, entre outras coisas, sobre o desafio de se programar na fase seminal do advento dos computadores.

Imagens: Raquel Gaudard e Mauro Tomassetti.

Em 2019 comemora-se meio século desse grande passo para a humanidade. O zeitgeist levou Don Eyles, uma mostra da missão Apollo no evento e, na telona, assistimos ao lançamento de The First Man.

Preciosidade: um calhamaço impresso numa impressora matricial, o código de programação da missão Apollo 11. Imagens por Mauro Tomassetti.

Um dia longo, como acabou ficando esse artigo. Contaria muito mais, mas é aquela coisa, vale derivar outros posts, temos muito a pensar sobre esse novo momento e sobre onde todas as coisas podem nos levar. Concorda?

E gostaria de trocar mais ideias com quem se interessa pelo assunto, então é só fazer contato!

No mais, a Fiera Roma é maior que a de Milano mesmo. Acabei de Googlar. Inté :)


Como prometido, links legais para saber mais sobre a cultura maker:

Série Formakers, assinada pelo Meio e Mensagem:

 

Um overview sobre o maker movement e como as crianças hoje já estão “contaminadas” por essa febre boa:

 

Essa moça é uma pesquisadora independente e fez um talk na Maker Faire que assisti e gostei bastante (em inglês), vale a pena:

 

E Massimo Banzi, fundador do Arduino, curador do evento Maker Faire Rome. Essa foi a primeiríssima palestra, que perdi ao vivo :/ Em italiano, people. Quem quiser transcrita em português, posso providenciar.

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