Economia circular promove feliz diálogo entre indústria da moda, calçados e vinhos, na Itália.
Estudando alternativas para o couro animal aplicado à indústria da moda e calçados, encontrei o VEGEA. Fruto do trabalho e pesquisa de uma startup italiana, que desenvolve tecnologias e processos baseados em biomassa, VEGEA reaproveita o descarte da agroindústria, como o proveniente da vinicultura.
Em poucas palavras, podemos dizer que VEGEA é um “couro” derivado do vinho. Sim, você leu direito: seu próximo par de sapatos pode ser realizado com um material derivado da produção de uma vinícola.
Quer circularidade mais interessante que essa? :)
O que é o VEGEA
O projeto VEGEA Textile nasceu em 2016 e aviou a produção de tecidos técnicos bio-baseds, derivados de uma matéria prima 100% vegetal, “la vinaccia“, composta por sementes, bagaços e cascas dos cachos de uva.
Imagens ©Divulgação
VEGEA é, portanto, um material obtido do beneficiamento do óleo da vinaccia e da lignocelulose, matéria seca da biomassa lignocelulósica, considerada a matéria-prima mais abundante da Terra para a produção de biocombustíveis, como o bioetanol. É composto por polímeros de carboidratos e um polímero aromático.
Quem está por trás
Giampiero Tessitore © Imagem divulgação
Francesco Merlino e Giampiero Tessitore são os nomes que deram vida a essa empreitada. Merlino, nascido e criado em Messina, na Sicília, Químico Industrial por formação, transfere-se para Milão e trabalha como consultor ambiental para empresas, medindo em laboratório impactos ambientais no seu território.
Tessitore, arquiteto, desde cedo mostrou interesse pela moda, arte e design, com atenção aos detalhes, às interseções e derivações que esses universos podem promover. No caso do seu trabalho com Merlino na VEGEA, também a indústria alimentar e uma economia voltada para o respeito ao ambiente tornaram-se objeto do seu estudo.
Segundo nos detalha o blog storie.cna.it – que faz um apanhado de empresas que se destacam em inovação, aqui na Itália -, Merlino é um apaixonado por reaproveitamento e reciclagem, tendo aviado em 2014 um projeto de pesquisa pela valorização e transformação da biomassa, com o objetivo de criar valor agregado.
“Estamos caminhando para uma economia cada vez mais eco sustentável, com uma consciência ambiental muito profunda por trás da nossa pesquisa e na realização dos nossos produtos “biobaseds“, ou seja, de matérias primas renováveis. Nos últimos anos tem crescido a exigência de produtos green e animal free” – afirma.
VEGEA © Imagens divulgação.
Merlino conclui reafirmando a importância e característica do material, um biopolímero que deriva um tecido técnico vendido à várias marcas para a realização de produtos de moda e design.
A empresa VEGEA já ganhou diversos prêmios de inovação e sustentabilidade, incluindo o Global Change Award, da H&M, que premia todos os anos iniciativas inovadoras com viés sustentável.
“A economia circular oferece e oferecerá mais ainda enormes oportunidades de desenvolvimento econômico nos países, com uma particular atenção à preservação do planeta. Num mundo cada vez mais poluído e super povoado de resíduos de todos os gêneros, a transformação e valorização das biomassas é uma escolha profundamente moral, e focar nesse tipo de investimento será, além de ético, lucrativo.
Da Itália, com amor e ética.
Um parêntesis interessante nessa história é o fato de que VEGEA é Made in Italy, país que ainda – por motivos reais, qualitativos, mas também derivados de um pensamento tradicionalista – , tem o couro animal como o principal insumo e um dos orgulhos da sua indústria calçadista, por exemplo.
Um par de sapatos que se preze, para a maioria dos italianos, deve ser realizado em “vera pelle” italiana.
Mas como sempre digo e repito, vamos ter de nos adaptar – e muito – para conseguir sobreviver nesse mundo com mais de 6 bilhões de pessoas (and counting). É um assunto para um próximo post, mas a verdade é que precisamos de alternativas de qualidade sim, que possam substituir o couro de boi, já que a indústria agropecuária causa um impacto ambiental indiscutível no nosso planeta.
Não vou chamar tal tema na estatística agora, parando por aqui, pois quero e muito falar sobre esse assunto – polêmico – posteriormente. Eu mesma tenho meus prós e contras, senões e porquês a respeito do couro animal. Entendendo que – ao menos aqui na Itália – esse couro de boi TAMBÉM faz parte de um processo de circularidade, já que é fruto do aproveitamento do descarte da indústria alimentar.
No momento desejo vida longa a materiais como o Vegea, que popularizem-se tornando-se acessíveis economicamente e com qualidade, capazes de fazer seus produtos duráveis ao longo do tempo.